sábado, 25 de janeiro de 2014

Mulher Solteira Procura (uma tradução atual)

A temática é conhecida: uma jovem de Nova Iorque (Alisson), que trabalha, namora e é independente, decide dividir seu apartamento com uma outra mulher (Hedra). Alisson vai levando a própria vida e nutre simpatia inicial por Hedra, sem perceber, inicialmente, que é o alvo da grande admiração da colega de apartamento. Aos poucos, essa admiração se transforma em obsessão. Hedra começa a usar as roupas de Bridget, seus perfumes, seu corte de cabelo. Passa a assumir para si os hábitos dela. Começa a falar e a andar como Alisson. Hedra quer ser vista como Alisson. E, finalmente, quer desesperadamente ser Alisson.

Qual a semelhança dessa situação para a atualidade virtual? Várias Hedras (alguns em maior, outros em menor grau) tentam, desesperadamente, tornar-se quem não são. Querem ser aqueles por quem nutrem simpatia, admiração e inveja. Tentam incorporar modos de falar, de agir e até de pensar ou sentir daqueles sobre quem se espelham.

A diferença é que não mais expõem, sequer assumem para si mesmos, seu encanto pela pessoa admirada. Não querem deixar pistas. Ao contrário, dizem-se autênticos e bem resolvidos. Afirmam continuamente o quanto são independentes, únicos e originais. Negam veementemente a(s) existência(s) da(s) pessoa(s) que lhes servem de referência, pois, secretamente, sabem que estas mesmas referências são vitais para suas próprias existências: precisam observar seus modelos ideais, copiando-os, ou somente traduzindo com suas próprias palavras o que vêem suas “inspiradores” fazendo.

Assim como Hedras do filme, os do mundo virtual são vazios. Tristes. Cansativos. Depressivos. Jamais admitem sua falta de brilho, especialmente porque conseguem viver o papel virtual com maior facilidade, já que as redes sociais possibilitam inúmeras “manobras” para atraírem e manterem admiradores. Frustram-se quando, na vida real, não conseguem cativar aqueles que gostariam. Falham quando precisam sustentar personagens que adotam como sendo seus, mas não compreendem porque não conseguem. E numa espécie de acordo não verbal inconsciente, esses Hedras retornam ao virtual, dialogando e trocando afirmações e elogios entre si sobre o quão especiais são.

Tais Hedras sofrem do que eu chamo de segundo grande mal do século: a completa falta de identidade pessoal. No filme, com final trágico, Hedra coloca em risco a vida de Alisson, uma vez que quer assumir por completo a vida da colega. Virtualmente falando, seria difícil causar acidentes e morte física de seus inspiradores. Então, por que se importar com isso?

Para responder a essa pergunta me vem outra pergunta: como você se sentiria se fosse alvo ou objeto de alguém (ou de alguns) que querem, a todo custo, incorporar todas as suas experiências, seus pensamentos, ideias, emoções e atitudes?

Particularmente, acho que os que menos se importam são os que mais têm assumido o papel de Hedra.


Um comentário:

  1. Belíssimo post, ótimo filme. Bridget Fonda estava demais. Mesmo que o filme tenha sido lançado no ano em que nasci, já assisti a ele mais de uma vez. É realmente impressionante como Hedra pode ser vista nas mais variadas pessoas. Sinceramente, creio que em todos nós há uma Hedra, que é o que inclusive nos estimula a crescer baseado nos exemplos de outras pessoas. O problema é quando isso se torna demais, a ponto de querermos ser alguém ao invés de nós mesmos, não é mesmo?

    Por fim, 'gostosa sem ser vulgar', quero dizer que me fascina o modo como tu consegue misturar inteligência, beleza - ao menos ao que os olhos podem ver através do monitor, heheh - e liberdade. Isso é raro hoje me dia. Se quiser conversar, estou a uma resposta de distância ;)

    Um beijo grande, e obrigado pelo blog.

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