A
temática é conhecida: uma jovem de Nova Iorque (Alisson), que
trabalha, namora e é independente, decide dividir seu apartamento
com uma outra mulher (Hedra). Alisson vai levando a própria vida e
nutre simpatia inicial por Hedra, sem perceber, inicialmente, que é
o alvo da grande admiração da colega de apartamento. Aos poucos,
essa admiração se transforma em obsessão. Hedra começa a usar as
roupas de Bridget, seus perfumes, seu corte de cabelo. Passa a
assumir para si os hábitos dela. Começa a falar e a andar como
Alisson. Hedra quer ser vista como Alisson. E, finalmente, quer
desesperadamente ser Alisson.
Qual a
semelhança dessa situação para a atualidade virtual? Várias
Hedras (alguns em maior, outros em menor grau) tentam,
desesperadamente, tornar-se quem não são. Querem ser aqueles por
quem nutrem simpatia, admiração e inveja. Tentam incorporar modos
de falar, de agir e até de pensar ou sentir daqueles sobre quem se
espelham.
A
diferença é que não mais expõem, sequer assumem para si mesmos,
seu encanto pela pessoa admirada. Não querem deixar pistas. Ao
contrário, dizem-se autênticos e bem resolvidos. Afirmam
continuamente o quanto são independentes, únicos e originais. Negam
veementemente a(s) existência(s) da(s) pessoa(s) que lhes servem de
referência, pois, secretamente, sabem que estas mesmas referências
são vitais para suas próprias existências: precisam observar seus
modelos ideais, copiando-os, ou somente traduzindo com suas próprias
palavras o que vêem suas “inspiradores” fazendo.
Assim
como Hedras do filme, os do mundo virtual são vazios. Tristes.
Cansativos. Depressivos. Jamais admitem sua falta de brilho,
especialmente porque conseguem viver o papel virtual com maior
facilidade, já que as redes sociais possibilitam inúmeras
“manobras” para atraírem e manterem admiradores. Frustram-se
quando, na vida real, não conseguem cativar aqueles que gostariam.
Falham quando precisam sustentar personagens que adotam como sendo
seus, mas não compreendem porque não conseguem. E numa espécie de
acordo não verbal inconsciente, esses Hedras retornam ao virtual,
dialogando e trocando afirmações e elogios entre si sobre o quão
especiais são.
Tais
Hedras sofrem do que eu chamo de segundo grande mal do século: a
completa falta de identidade pessoal. No filme, com final trágico,
Hedra coloca em risco a vida de Alisson, uma vez que quer assumir por
completo a vida da colega. Virtualmente falando, seria difícil
causar acidentes e morte física de seus inspiradores. Então, por
que se importar com isso?
Para
responder a essa pergunta me vem outra pergunta: como você se
sentiria se fosse alvo ou objeto de alguém (ou de alguns) que
querem, a todo custo, incorporar todas as suas experiências, seus
pensamentos, ideias, emoções e atitudes?
Particularmente, acho que os que menos se importam são os que mais têm assumido o papel de Hedra.
Belíssimo post, ótimo filme. Bridget Fonda estava demais. Mesmo que o filme tenha sido lançado no ano em que nasci, já assisti a ele mais de uma vez. É realmente impressionante como Hedra pode ser vista nas mais variadas pessoas. Sinceramente, creio que em todos nós há uma Hedra, que é o que inclusive nos estimula a crescer baseado nos exemplos de outras pessoas. O problema é quando isso se torna demais, a ponto de querermos ser alguém ao invés de nós mesmos, não é mesmo?
ResponderExcluirPor fim, 'gostosa sem ser vulgar', quero dizer que me fascina o modo como tu consegue misturar inteligência, beleza - ao menos ao que os olhos podem ver através do monitor, heheh - e liberdade. Isso é raro hoje me dia. Se quiser conversar, estou a uma resposta de distância ;)
Um beijo grande, e obrigado pelo blog.